Arquitetos reformulam a noção tradicional de vila paulistana com um projeto estrutural que ajusta o bloco quase a flutuar às exigências da legislação.
A Vila Aspicuelta, recém-construída no bairro Vila Madalena, em São Paulo, pouco tem a ver, formalmente, com outras vilas que se espalham pela cidade. Enquanto as tradicionais são formadas por casinhas geminadas de diferentes estilos, caráter e cores, esta prima por uma rigorosa ordem arquitetônica. Do ponto de vista legal, no entanto, elas são idênticas, já que respondem aos mesmos princípios e regras: uma vila é um conjunto de habitações independentes, cujo acesso se dá por uma via particular articulada, em um único ponto, com uma via oficial de circulação existente. O gabarito máximo não deve exceder 9 m (podendo ser ainda mais baixo, dependendo da zona de uso onde se localize o conjunto residencial) e em seu interior devem estar previstas vagas para estacionamento de veículos.
A primeira decisão de projeto para a Vila Aspicuelta foi a de não escavar o subsolo para o estacionamento, tanto para não interferir no lençol freático quanto para evitar os custos adicionais que isso representaria. Foi necessário, então, suspender o edifício e livrar o térreo para a circulação de automóveis. ‘Queríamos criar a sensação de uma pedra que flutuasse baixinho, sem que você pudesse entender muito bem como’, conta o arquiteto Rodrigo Cerviño Lopez que, ao lado de Fernando Falcon, forma o Tacoa Arquitetos Associados, escritório chamado pela empreendedora Aphins para o desenho arquitetônico – este empreendimento, aliás, inaugura a atuação da Aphins no ramo de projetos residenciais de boa arquitetura.
Uma das hipóteses de projeto, então, foi a de sustentar todo o volume do edifício no centro do terreno com potentes vigas transversais que se apoiam nos dois muros longitudinais. ‘Mas fomos descobrindo aos poucos as nuances da legislação de vila’, relembra Miguel Vendrasco, da Aphins. Uma delas é o fato de que a vila deve contar com uma faixa de circulação de pedestres de 3 m de largura, contínua e descoberta. Sobre ela, nem mesmo o pergolado formado pelo conjunto de vigas de um dos lados do volume poderia pairar. Por isso, foi necessário fazer com que um lado do edifício pousasse no térreo, liberando a obrigatória circulação de pedestres na forma de um generoso recuo lateral.